Irmãs Fox
As Irmãs Fox foram três mulheres que, nos Estados Unidos da
América tiveram um importante papel na gênese do Moderno
Espiritualismo Ocidental. As irmãs eram Katherine
"Kate" Fox (1837–1892), Leah Fox (1814–1890) e Margaret "Maggie" Fox (1833–1893). As irmãs fizeram sucesso
por muitos anos como médiuns que diziam possibilitar espíritos a se
manifestarem por batidas (tiptologia). Em 1888 Margaret alegou que as batidas
eram uma farsa e no ano seguinte se retratou de tal alegação, dizendo que na
verdade eram manifestações mediúnicas mesmo1 . Este quadro de
"confissão" seguido de retratação tem fornecido argumentos para os espiritualistas e materialistas defenderem
suas posições sobre o caso, de modo que a controvérsia nunca termina2 .
Biografia
A família Fox
Em 11 de dezembro de 1847, a família Fox, de origem canadense, instalou-se em uma casa modesta na povoação de Hydesville, no estado de Nova Iorque, distante cerca de trinta quilômetros da cidade de Rochester3 .
O nome da família Fox origina-se do sobrenome "Voss", depois
"Foss" e finalmente "Fox". Eram de origem alemã, por parte paterna; e francesa, holandesa e inglesa, por parte materna.
O grupo compunha-se do chefe da família, Sr. John D. Fox, da esposa Sra.
Margareth Fox e de mais duas filhas: Kate, com 11 e Margareth, com 14 anos de
idade. O casal possuía mais filhos e filhas. Entre estas, Leah, mais velha, que
morava em Rochester, onde lecionava música. Devido aos seus casamentos, foi
sucessivamente conhecida como Sra. Fish, Sra. Brown e Sra. Underhill. Leah
escreveria um livro, "The Missing Link" (New York, 1885), no qual faz referência às supostas faculdades paranormais de seus
ancestrais.
Inicialmente, apenas Margareth e Kate tomaram parte nos acontecimentos.
Posteriormente, Leah juntou-se a elas e teve participação ativa nos episódios
subsequentes ao de Hydesville.
Os acontecimentos de
Hydesville
A fonte mais conhecida e divulgada sobre o ocorrido em Hydesville é o
depoimento da Sra. Margareth Fox que consta no livro História do
Espiritualismo de Sir Arthur Conan Doyle:
"Na
noite da primeira perturbação, todos nos levantamos, acendemos uma vela e
procuramos pela casa inteira, enquanto o barulho continuava e era ouvido quase
que no mesmo lugar. Conquanto não muito alto, produzia um certo movimento nas
camas e cadeiras a ponto de notarmos quando deitadas. Era um movimento em
trêmulo, mais que um abalo súbito. Podíamos perceber o abalo quando de pé no
solo. Nessa noite continuou até que dormimos. Eu não dormi até quase
meia-noite. Os rumores eram ouvidos por quase toda a casa. Meu marido ficou à
espera, fora da porta, enquanto eu me achava do lado de dentro, e as batidas
vieram da porta que estava entre nós. Ouvimos passos na copa, e descendo a
escada; não podíamos repousar, então conclui que a casa deveria estar
assombrada por um Espírito infeliz e sem repouso. Muitas vezes tinha ouvido
falar desses casos, mas nunca tinha testemunhado qualquer coisa no gênero, que
não levasse para o mesmo terreno.
Na noite de
sexta-feira, 31 de março de 1848, resolvemos ir para a cama um pouco mais cedo
e não nos deixamos perturbar pelos barulhos: íamos ter uma noite de repouso.
Meu marido aqui estava em todas as ocasiões, ouviu os ruídos e ajudou a
pesquisa. Naquela noite fomos cedo para a cama – apenas escurecera. Achava-me
tão quebrada e sem repouso que quase me sentia doente. Meu marido não tinha ido
para a cama quando ouvimos o primeiro ruído naquela noite. Eu apenas me havia
deitado. A coisa começou como de costume. Eu o distinguia de quaisquer outros
ruídos jamais ouvidos. As meninas, que dormiam em outra cama no quarto, ouviram
as batidas e procuraram fazer ruídos semelhantes, estalando os dedos.
Minha filha
menor, Kate, disse, batendo palmas: "Senhor Pé-Rachado, faça o que eu
faço". Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas.
Quando ela parou, o som logo parou. Então Margareth disse brincando:
"Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro" e bateu
palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o
ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil: "Oh! mamãe! eu já
sei o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma
mentira".
Então pensei
em fazer um teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem
indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente foi dada a
exata idade de cada um, fazendo uma pausa de um para o outro, a fim de os
separar até o sétimo, depois do que se fez uma pausa maior e três batidas mais
fortes foram dadas, correspondendo à idade do menor, que havia morrido.
Então
perguntei: "É um ser humano que me responde tão corretamente?" Não
houve resposta. Perguntei: "É um Espírito? Se for dê duas batidas."
Duas batidas foram ouvidas assim que fiz o pedido. Então eu disse: "Se foi
um Espírito assassinado dê duas batidas". Estas foram dadas
instantaneamente, produzindo um tremor na casa. Perguntei: "Foi assassinado
nesta casa?" A resposta foi como a precedente. "A pessoa que o
assassinou ainda vive?" Resposta idêntica, por duas batidas. Pelo mesmo
processo verifiquei que fora um homem que o assassinara nesta casa e os seus
despojos enterrados na adega; que a sua família era constituída de esposa e
cinco filhos, dois rapazes e três meninas, todos vivos ao tempo de sua morte,
mas que depois a esposa morrera. Então perguntei: "Continuará a bater se
chamar os vizinhos para que também escutem?" A resposta afirmativa foi
alta.
Meu marido
foi chamar Mrs. Redfield, nossa vizinha mais próxima. É uma senhora muito
delicada. As meninas estavam sentadas na cama, unidas uma à outra e tremendo de
medo. Penso que estava tão calma como estou agora. Mrs. Redfield veio imediatamente,
seriam cerca de sete e meia, pensando que faria rir às meninas. Mas quando as
viu pálidas de terror e quase sem fala, admirou-se e pensou que havia algo mais
sério do que esperava. Fiz algumas perguntas por ela e as respostas foram como
antes. Deram-lhe a idade exata. Então ela chamou o marido e as mesmas perguntas
foram feitas e respondidas.
Então, Mrs.
Redfield chamou Mr. Duesler e a esposa e várias outras pessoas. Depois, Mr.
Duesler chamou o casal Hyde e o casal Jewell. Mr. Duesler fez muitas perguntas
e obteve as respostas. Em seguida, indiquei vários vizinhos nos quais pude
pensar, e perguntei se havia sido morto por algum deles, mas não tive resposta.
Após isso, Mr. Duesler fez perguntas e obteve as respostas: Perguntou:
"Foi assassinado?" Resposta afirmativa. "Seu assassino pode ser
levado ao tribunal?" Nenhuma resposta. "Pode ser punido pela
lei?" Nenhuma resposta. A seguir, disse: "Se seu assassino não pode
ser punido pela lei dê sinais." As batidas foram ouvidas claramente. Pelo
mesmo processo Mr. Duesler verificou que ele tinha sido assassinado no quarto
de leste, há cinco anos passados, e que o assassínio fora cometido à meia-noite
de uma terça-feira, por Mr.; que fora morto com um golpe de faca de açougueiro
na garganta; que o corpo tinha sido levado para a adega; que só na noite
seguinte é que havia sido enterrado; tinha passado pela despensa, descido a
escada, e enterrado a dez pés abaixo do solo. Também foi constatado que o
motivo fora o dinheiro.
"Qual a
quantia: cem dólares?" Nenhuma resposta. "Duzentos? Trezentos?"
etc. Quando mencionou quinhentos dólares as batidas confirmaram.
Foram
chamados muitos dos vizinhos que estavam pescando no ribeirão. Estes ouviram as
mesmas perguntas e respostas. Alguns permaneceram em casa naquela noite. Eu e
as meninas saímos. Meu marido ficou toda a noite com Mr. Redfield. No sábado
seguinte a casa ficou superlotada. Durante o dia não se ouviram os sons; mas ao
anoitecer recomeçaram.
Diziam que
mais de trezentas pessoas achavam-se presentes. No domingo pela manhã os ruídos
foram ouvidos o dia inteiro por todos quantos se achavam em casa.
Na noite de
sábado, 1º de abril, começaram a cavar na adega; cavaram até dar n'água; então
pararam. Os sons não foram ouvidos nem na tarde nem na noite de domingo.
Stephen B. Smith e sua esposa, minha filha Marie, bem como meu filho David S.
Fox e sua esposa dormiram no quarto aquela noite.
Nada mais
ouvi desde então até ontem. Antes de meio-dia, ontem, várias perguntas foram
respondidas da maneira usual. Hoje ouvi os sons várias vezes.
Não acredito
em casas assombradas nem em aparições sobrenaturais. Lamento que tenha havido
tanta curiosidade neste caso. Isto nos causou muitos aborrecimentos. Foi uma
infelicidade morarmos aqui neste momento. Mas estou ansiosa para que a verdade
seja conhecida e uma verificação correta seja procedida. Ouvi as batidas
novamente esta manhã, terça-feira, 4 de abril. As meninas também ouviram.
Garanto que
o depoimento acima me foi lido e que é a verdade; e que, se fosse necessário,
prestaria juramento de que é verdadeiro."
Assinado
Margaret Fox
11 de abril
de 1848."4
Assim também, no mesmo livro, é relatado demais depoimentos de proprietários
anteriores que alegam ocorrências de ordem sobrenatural na residência:
"Depoimento da Senhora Hannah Weekman
Ouvi falar
nos ruídos misteriosos que eram ouvidos na casa agora ocupada pelo Senhor Fox.
Nós moramos na mesma casa cerca de um ano e meio, daí nos mudando para onde
agora estamos. Há cerca de um ano, quando lá habitávamos, ouvimos alguém,
conforme pensamos, batendo de leve na porta de entrada. Eu acabara de me
deitar, mas meu marido ainda não. Assim, ele abriu a porta e disse que não havia
ninguém. Voltou e já estava para se deitar quando novamente ouvimos bater à
porta. Ele foi então abri-la e disse que não via ninguém; não obstante esperou
um pouco. Então voltou e deitou-se. Veio muito zangado, pois supunha fosse
algum garoto da vizinhança querendo aborrecer-nos. Assim, disse que "eles
podiam bater, mas não o levariam na brincadeira", ou coisa semelhante.
As batidas
foram ouvidas novamente; depois de algum tempo ele se levantou e saiu. Eu lhe
disse que não saísse, pois temia que alguém quisesse pegá-lo fora e o
agredisse. Ele voltou e disse que nada tinha visto. Ouvimos muito barulho
durante a noite; dificilmente poderíamos dizer onde era produzido; por vezes
parecia que alguém andava na adega. Mas a casa era velha e pensamos que fossem
estalos da madeira ou coisa semelhante.
Algumas
noites depois uma de nossas meninas, que dormia no quarto onde agora são
ouvidas as batidas acordou-nos a todos soluçando. Meu marido, eu e a empregada
nos levantamos imediatamente para ver o que se passava. Ela sentou-se na cama
em pranto e nós custamos a verificar o que se passava. Disse ela que algo se
movimentava acima de sua cabeça e que ela sentia um frio sem saber o que era.
Disse havê-lo sentido sobre ela toda, mas que ficara mais alarmada ao senti-lo
sobre o rosto. Estava muito assustada. Isto se passou entre meia-noite e uma
hora. Ela se levantou e foi para a nossa cama, mas custou muito a adormecer. Só
depois de muitos dias conseguimos que fosse dormir em sua cama. Tinha ela então
oito anos.
Nada mais me
aconteceu durante o tempo em que lá moramos. Mas meu marido me disse que uma
noite o chamaram pelo nome, de algum lugar na casa – não sabia de onde –mas
jamais pôde saber de onde e quem era. Naquela noite eu não estava em casa:
estava assistindo uma pessoa doente.
Então não
pensávamos que a casa fosse assombrada...
Assinado:
Hannah Weekman
11 de abril,
de 1848."
"Depoimento de Michael Weekman
Sou marido
de Hannah Weekman. Morávamos na casa agora ocupada pelo Senhor Fox, na qual
dizem que ruídos estranhos são ouvidos. Aí moramos cerca de um ano e meio. Uma
noite, à hora de dormir, ouvi batidas. Supunha que fosse alguém que quisesse
entrar. Não disse o costumeiro "pode entrar"; fui até à porta. Não
encontrei ninguém, voltei e exatamente quando ia para a cama ouvi novas batidas
e rapidamente abri a porta, mas não vi ninguém. Então me deitei. Pensei que
alguém estivesse querendo divertir-se. Depois de alguns minutos ouvi novas
pancadas e, depois de esperar um pouco e, ainda as ouvindo, levantei-me e fui à
porta. Desta vez saí e rodeei a casa mas não encontrei ninguém. Voltei, fechei
a porta e segurei o ferrolho, pensando que se viesse alguém seria pilhado.
Dentro de um ou dois minutos nova batida. Eu estava com a mão na porta e a
batida parecia na porta. Podia sentir a vibração das batidas. Abri
instantaneamente a porta e saí rápido, mas não havia ninguém à vista. Então dei
nova volta à casa mas, como da outra vez, nada encontrei. Minha mulher tinha
dito que era melhor não sair, pois talvez fosse alguém que me quisesse agredir.
Não sei o que pensar, pois parece estranho e incrível.
Então relata
o caso da menina assustada, como ficou dito acima.
Uma noite,
após isto, despertei cerca de meia-noite e ouvi pronunciarem o meu nome.
Parecia que a voz vinha do lado sul do quarto. Sentei-me na cama e escutei, mas
não mais ouvi. Não me levantei, mas esperei que repetissem. Naquela noite minha
mulher não estava em casa. Contei-lhe isto depois e ela me disse que eu estava
sonhando. Freqüentemente minha mulher se assustava com estranhos ruídos dentro
e fora da casa.
Tenho ouvido
tais coisas de homens fidedignos acerca dos ruídos que agora se ouvem que,
ligados ao que ouvi, não posso deixar de supor que sejam sobrenaturais. Desejo
prestar uma declaração dos fatos acima, caso necessário.
Assinado:
Michael Weekman
11 de abril,
de 1848."
As escavações na adega
Através de combinação alfabética com as pancadas produzidas, as irmãs Fox teriam obtido a identidade
daquele que supostamente produzia os sons. Tratar-se-ia de um mascate de nome
Charles B. Rosma, o qual tinha trinta e um anos quando, quatro anos antes,
teria sido assassinado naquela casa e enterrado na adega. O assassino teria
sido um antigo inquilino o que, pela data, levou a deduzir que o crime poderia
ter sido cometido pelo Sr. Bell. Os mais interessados em esclarecer o caso
resolveram escavar a adega, visando encontrar os
despojos do suposto assassinado.
As escavações não levaram a quaisquer resultados uma vez que não foram
encontrados quaisquer indícios de restos mortais. Por essa razão foram
suspensas.
Nesta altura já havia surgido ao menos um depoimento de quem se lembrava
da passagem pela região de um certo mascate na mesma data em que o suposto
espírito indicou como sendo o do seu assassinato. Esse depoimento, com riqueza
de detalhes, descrevia o comportamento muito suspeito dos antigos proprietários
da residência em Hydesville, o Sr. Bell e a esposa que, sozinhos, teriam
recebido o mascate, tendo até dispensado os empregados da casa naqueles dias.
No Verão de 1848, David Fox, irmão mais velho da família, fez mais escavações. A uma
profundidade de um metro e meio, encontraram uma tábua. Aprofundada a cova,
encontraram restos de carvão, cal, cabelos e alguns fragmentos de ossos que, de acordo com Doyle, foram reconhecidos por um médico como
pertencentes a um esqueleto humano; mais nada. Evidências comprovadas na época
em que estes achados demonstram pelo aspecto e textura dos materiais analisados
a sua autenticidade por alguns cientistas deste período como Willian Crooks,
Lombroso, Alexander Aksakof e o inglês Wallace.
O movimento espiritualista
espalha-se
As duas meninas, Margareth e Kate, foram afastadas de sua casa, pois se
suspeitava que os fenômenos fossem ligados sobretudo à sua presença. Margareth
passou a morar com o seu irmão David Fox. Kate mudou-se para Rochester, onde
ficou em casa de sua irmã Leah, então casada e agora Sra. Fish. Entretanto, os
ruídos insistiam em acompanhar as irmãs Fox; onde quer que elas se
encontrassem, registravam-se os fenômenos. Agora se observava mesmo uma espécie
de contágio, pois, Leah Fish, a irmã mais velha, passou a apresentar também
fenômenos mediúnicos. Em pouco tempo, começaram a ser observados no seio de
outras famílias. Como consta no livro História do Espiritismo:
"Era
como uma nuvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas
suscetíveis. Sons idênticos foram ouvidos em casa do Reverendo A. H. Jervis,
ministro metodista residente em Rochester. Poderosos fenômenos físicos
irromperam na família do Diácono Hale, de Greece, cidade vizinha de Rochester.
Pouco depois a Sra. Sarah A. Tamlin e a Sra. Benedict de Auburn, desenvolveram
notável mediunidade (...)."
O movimento espalhar-se-ia, mais tarde, pelo mundo, conforme fora
afirmado em uma das primeiras comunicações através das irmãs Fox. As próprias
forças invisíveis teriam insistido para que se fizessem reuniões públicas onde
elas pudessem manifestar-se ostensivamente.
As irmãs viveram por cerca de 10 anos relacionadas com o fenômeno
espiritualista, principalmente realizando apresentações dos seus poderes
mediúnicos. Nas primeiras dessas apresentações, membros da platéia conhecidos
na sociedade e incrédulos eram convidados a examinar as irmãs e verificar a
ausência de quaisquer equipamentos ou montagens que pudessem ser usados.
Por conveniência, porém, cada vez mais as irmãs aderiam à apresentações
e caminhos individuais no uso de sua suposta mediunidade. Em 1858, por conta
dos seus casamentos, Maggie e Leah retiraram-se da militância espiritualista,
ficando apenas Kate como expoente médium da família.
Além de batidas, outros supostos tipos de mediunidade que Kate possuía
eram a capacidade de produzir luzes espirituais, escrita direta,
aparecimento de formas materializadas e poltergeist5 . Nos anos 1870 o cientista Sir William Crookes fez vários
experimentos com Kate e concluiu que ela realmente tinha tais capacidades
mediúnicas.
Relatou
Crookes: "Eu segurava ambas as mãos da médium numa das minhas enquanto
seus pés estavam sobre os meus. Havia papel sobre a mesa em nossa frente e eu
tinha um lápis na mão livre. Uma luminosa mão desceu do alto da sala e, depois
de oscilar perto de mim durante alguns segundos, tomou o lápis de minha mão e
escreveu rapidamente numa folha de papel, largou o lápis e ergueu-se sobre as
nossas cabeças, dissolvendo-se gradativamente na escuridão."6
Sobre a
suposta capacidade de Kate mediar batidas, Crookes registrou: "Durante
vários meses, tive o prazer de em inúmeras ocasiões verificar os fenômenos
variados que se produziam em presença desta senhora, e foram esses ruídos
(batidas) que especialmente estudei.
É geralmente
necessário, com os outros médiuns, para uma sessão regular, que todos fiquem
sentados e em silêncio, mas com a Sra. Fox parece-lhe simplesmente necessário
colocar a mão sôbre qualquer parte, para que sons ruidosos aí se façam ouvir,
como que triplo choque, e algumas vezes, com bastante fôrça para serem ouvidos
através de vários aposentos.
Ouvi-os
assim produzirem-se em uma árvore, num grande quadro de vidro, em um arame
esticado, numa membrana distendida, em um tamboril, sobre a cobertura de uma
carruagem, e no tablado de um teatro. Ainda mais, o contato imediato nem sempre
é necessário; ouvi esses ruídos saírem do soalho, das paredes, etc., quando a
médium tinha as mãos e os pés ligados, quando estava em pé sobre uma cadeira,
quando se achava em uma balança suspensa no teto, quando estava encerrada em
uma gaiola de ferro, e quando em letargia numa poltrona. Ouvi-os sobre os
vidros de uma harmônica, senti-os sobre meus próprios ombros e sob as minhas
mãos. Ouvi-os sobre uma folha de papel segura entre os meus dedos, por uma
extremidade de fio passado num canto dessa folha.
Com pleno
conhecimento das numerosas teorias que foram apresentadas antes, sobretudo na
América, para explicar esses sons, experimentei-os de todas as maneiras que
pude imaginar, até não mais ser possível furtar-me à convicção de que eram bem
reais e que não se produziam pela fraude ou por meios mecânicos."6
"Confissões" e
"desconfissões"
Ao fim da década de 1880, Kate e
Maggie haviam se desentendido com Leah que, denunciando o alcoolismo das primeiras, conseguiu retirar a guarda dos filhos de Kate. As irmãs
mais novas então, decididas a macular a imagem da mais velha, optaram por fazer
alegações salientando uma suposta manipulação que teriam sofrido de Leah quando
crianças.
Inicialmente no The
New York Herald de 24 de setembro de 1888, Margaret publicou longa crítica ao Espiritualismo e culpou
Leah por uma suposta manipulação de tudo o que se passava.
Ansiosas para prejudicarem Leah o tanto quanto possível, no mês seguinte
Margaret e Kate viajaram para Nova York, onde um repórter ofereceu 1.500
dólares para elas afirmarem publicamente que fraudavam os fenômenos de alegadas
comunicações com espíritos7 . Então Margaret, diante de
uma platéia da Academia
de Música de Nova Iorque (a qual Kate estava presente)
disse:
"Eu
estou aqui hoje como uma das fundadoras do Espiritualismo, para denunciá-lo como
uma falsidade absoluta do começo ao fim, como a mais frívola das superstições,
a blasfêmia mais perversa conhecida no mundo."
A seguir a essa declaração, tirou o seu sapato direito e demonstrou uma
técnica de bater com o dedo maior do pé, visando reproduzir o som que era
observado em suas apresentações.
"O
espiritualismo é fraude do princípio ao fim. É a major impostura do século. Não
sei se ela já lhe disse isso, mas Maggie e eu começamos quando éramos crianças
muito pequeninas, pequenas e inocentes demais para compreendermos o que
fazíamos. Nossa irmã Leah contava vinte e três anos mais que nós, Iniciadas no
caminho do engano e encorajadas a isso, continuamos, é claro. Outros, com
bastante idade para se envergonharem de tal infâmia, apresentaram-nos ao mundo.
Minha irmã Leah publicou um livro intitulado O Elo que faltava ao
Espiritualismo. Pretende contar a verdadeira história do movimento, tanto
quanto se originou conosco. Ora, só há no livro falsidade do início ao fim.
Salvo o fato de que foi Horace Greeley que me educou. O restante é uma cadeia
de mentiras."
Quando perguntada sobre às manifestações de Hydesville em 1848 e aos
ossos encontrados na adega, respondeu: "Tudo fraude, sem exceção,
contudo, Maggíe e eu somos as fundadoras do espiritualismo!"
(Sendo posteriormente na edição de 23 de
novembro de 1904 do Boston Journal foi publicada a descoberta do esqueleto de
um homem cujo espírito se supunha ter ocasionado os fenômenos na casa da
família Fox em 1848)
E continuou:
"Debaixo
do nome dessa terrível, horrorosa hipocrisia — o espiritualismo — tudo que há
de impróprio, mau e imoral é praticado. Vão tão longes a ponto de terem o que
chamam 'filhos espirituais'! Pretendem algo como a Imaculada Conceição! Coisa
alguma poderia ser mais blasfematória, mais nojenta, mais altamente
fraudulenta! Em Londres, fui disfarçada, a uma sessão privada em casa de um
homem rico. Vi uma chamada 'materialização'. O efeito foi obtido por meio de
papel luminoso cujo brilho se refletia sobre o refletor. A figura assim exibida
era a de uma mulher – virtualmente um nu; envolvia-a uma gaze transparente. O
rosto apenas se achava oculto. Era essa uma das sessões a que são admitidos
alguns amigos privilegiados, não 'crentes', de espíritas 'crentes há, porém,
outras sessões a que só são admitidos os mais provados e fiéis; aí ocorrem as
coisas mais vergonhosas, que rivalizam com as saturnálias secretas
dos antigos romanos. Não posso descrever-lhe essas coisas, porque não ousaria."
"Minha
irmã Katie foi a primeira a descobrir que por esfregar os dedos podia produzir
certo ruído com as juntas e que o mesmo efeito podia ser produzido com os artelhos. Descobrindo que podíamos criar ruídos com nossos pés - primeiro com um
pé, depois com ambos - praticamos até poder fazer isso com facilidade quando a
sala estava às escuras. Ninguém suspeitava de que fosse um truque nosso pois
éramos crianças ainda tão novas... todos os vizinhos julgavam que havia algo, e
desejaram descobrir do que se tratava. Estavam convencidos de que alguém havia
sido assassinado na casa. Perguntaram-nos a respeito, e praticávamos as
pancadas, sendo uma para "sim", três para "não", como
passamos fazer daí por diante. Nada sabíamos sobre espiritualismo então. O
assassinato, concluíram, devia ter sido cometido na casa. Finalmente,
encontraram um homem chamado Bell e disseram que o pobre inocente havia
cometido um assassinato na casa, e que aqueles sons procediam dos espíritos das
pessoas assassinadas. O pobre Bell passou a ser evitado e visto como assassino
por toda a comunidade. No que tange a espíritos, nem eu nem minha irmã
pensávamos a respeito disso... Tenho visto tanto engano danoso que estou disposta
a prestar assistência o quanto puder e positivamente declarar que o
espiritualismo é uma fraude da pior descrição. Faço isso perante Deus, e minha
ideia é denunciá-lo... Estou convicta de que esta declaração, partindo
solenemente de mim, a primeira e mais bem sucedida nesse engano, romperá a
força do rápido crescimento do espiritualismo e comprovará ser tudo uma fraude,
hipocrisia e engano."
Um ano após falsas denúncias de fraude contra si mesma e suas irmãs, e
percebendo não ter atingido a irmã Leah, Maggie decidiu desmentir as suas
"confissões", alegando tê-las feito em troca de dinheiro de
religiosos que se aproveitaram de sua situação de pobreza. Disse Maggie ao The
New York Herald de 24 de setembro de 18891 :
"Preza
a Deus que eu possa desfazer a injustiça que fiz à causa do Espiritualismo
quando, sob intensa influência psicológica de pessoas inimigas dele, fiz
declarações que não se baseiam nos fatos. Esta retratação e negação não parte
apenas do meu próprio senso daquilo que é direito, como também do silencioso
impulso dos Espíritos que usam o meu organismo, a despeito da hostilidade da
horda traidora que prometeu riqueza e felicidade em troca de um ataque ao
Espiritualismo, e cujas esperançosas promessas foram tão falazes[...] Muito
antes que falasse a quem quer que fosse sobre este assunto, estava sendo
incessantemente advertida por meu Espírito-guia daquilo que
devia fazer; por fim cheguei à conclusão de que era inútil contrariar as suas
recomendações."
Na mesma ocasião, um redator do The New York Herald perguntou-lhe o
seguinte: “Havia alguma coisa de verdadeiro nas acusações que você fez ao
Espiritualismo?”, e Maggie respondeu:
"Aquelas
acusações eram falsas em todas as minúcias. Não hesito em dizê-lo... Não. Minha
crença no Espiritualismo não sofreu mudanças. Quando fiz aquelas terríveis
declarações não era responsável por minhas palavras. Sua autenticidade é um
fato incontroverso. Nem todos os Hermans vivos serão capazes de reproduzir as
maravilhas que se produzem através de alguns médiuns. Pela habilidade manual e
por meio de espertezas podem escrever em papéis e lousas, mas mesmo assim não
resistem a uma investigação acurada. A produção da materialização está acima de
seu calibre mental e desafio a quem quer que seja a produzir batidas nas
condições em que as produzo. Não há ser humano na Terra que possa produzir as
batidas do mesmo modo que elas o são por meu intermédio"
O mesmo redator também a perguntou: "Que diz sua irmã Kate de sua
presente atitude?” , e Maggie disse:
"Está
de pleno acôrdo. Ela não concordou com a minha atitude no passado".
Kate Fox não se retratou publicamente de suas declarações, temendo
retaliações. Contudo, no livro História do Espiritismo de Sir Conan
Doyle consta uma carta escrita por Kate em 1888 para uma amiga em que ela se
retrata1 :
"[...]O
empresário da exibição arranjou a Academia de Música, o maior auditório da
cidade de New York; ficou superlotado. Fizeram uma renda de mil e quinhentos
dólares. Muitas vezes desejei ter ficado com você e se tivesse meios agora
voltaria para me livrar de tudo isso. Agora penso que podia fazer dinheiro,
provando que as batidas não são produzidas pelos dedos dos pés. Tanta gente me
procura por causa da declaração de Maggie que me recuso a recebê-los. Insistem
em desmascarar a coisa, se puderem; mas certamente não o conseguirão[...]"
São estudados os fatos ocorridos em Hidesville por cientistas e
estudiosos das ciências psíquicas e comprovados sua autenticidade ( Espiritismo
e Animismo; Aksakof, Alexander) , faleceram poucos anos depois como médiuns
respeitadas por vários estudiosos da moderna parapsicologia.
A descoberta do esqueleto
Na edição de 23 de novembro de 1904 do Boston Journal foi notificada a descoberta do esqueleto de um homem 8 cujo espírito se supunha ter ocasionado os fenômenos na casa da família Fox em 1848.
Alguns meninos de uma escola achavam-se brincando na adega da casa onde
residiram os Fox, casa que tinha a fama de ser mal-assombrada. Em meio aos
escombros de uma parede que existira na adega, os garotos encontraram as peças
de um esqueleto humano.
Junto ao esqueleto foi achada uma lata de um produto costumeiro usado por mascates. Esta lata encontra-se
agora em Lily
Dale, na sede central regional dos Espiritualistas
Americanos, para onde foi transportada da velha casa de Hydesville.
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